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30 de janeiro de 2019

Na prática: protagonismo social

O protagonismo social é a capacidade de atuação de indivíduos ou grupos, decorrente do autoconhecimento, de competências técnicas e habilidades sociais, que são capazes de promover mudanças decisivas na vida pessoal e na realidade dos territórios onde estão inseridos.

A partir da formação de comunidades protagonistas, os projetos da Fundação Alphaville buscam estimular que as pessoas sejam co-responsáveis não só por identificar os problemas de seus territórios, mas também promover as soluções para cada um deles, com base nos ativos e talentos locais. Um dos projetos que representa esse modelo de atuação é o Peixe na Rede, desenvolvido em Feira de Santana (BA).

Idealizado a partir da construção coletiva, o Peixe na Rede foi formado por um grupo de pescadores que precisaram se organizar para garantir o sustento de suas famílias e, ao mesmo tempo, a preservação ambiental local. De acordo com Débora Silva, coordenadora de projetos sociais da Fundação Alphaville, o projeto foi apresentado para a organização em meados de 2014 e foi apoiado com a expectativa de desenvolvimento local. “Quando iniciamos a relação com a comunidade, vimos que fazia sentido para os pescadores, que já atuavam com a pesca artesanal, agir com um modelo diferenciado que fortalecesse o grupo, buscasse parcerias e respeitasse o período de defeso do rio Jacuipe”, diz. Nos períodos de defeso, época de reprodução dos peixes, a pesca, prática tradicional da região que garante o sustento das famílias ribeirinhas, é proibida e a renda dos pescadores cai bruscamente, afetando a economia local.

A partir da metodologia Convivência que Constrói, que articula conhecimento técnico com os saberes locais, os pescadores passaram a se reconhecer como um grupo e assumiram seu papel de protagonistas no território. Utilizando os preceitos da educação para a sustentabilidade, mobilizaram parceiros e buscaram uma solução que atendesse à necessidade de defeso do rio e garantisse também a manutenção da produção e incremento de sua renda: o cultivo de tilápias em tanque-rede.

O processo não foi fácil. Durante os períodos de experimentação com os tanques-rede, o grupo sentiu impactos decorrentes de mudanças ambientais locais, como a reprodução de baronesas, uma vegetação aquática que impedia a produção dos pescados no local. A invasão obrigou os pescadores a mudar o local do cultivo, o que acarretou na impossibilidade de que parte do grupo se mantivesse ativo. Mas o que poderia representar o fim do projeto encontrou no protagonismo dos participantes, a força para continuar. Cientes de sua responsabilidade com a comunidade local e do potencial para sua solução, o grupo seguiu suas mobilizações.

Hoje, a atividade que colabora com a redução da pesca predatória e estimula a inclusão socioeconômica da comunidade ribeirinha, já rendeu bons frutos. Em poucos meses de participação no mercado, o coletivo já comercializou quase 3 toneladas de pescado, vendidos com a estratégia comercial adotada pelo próprio grupo: parte para grandes comércios, garantindo alimentos de qualidade e rendimento para os pescadores e parte para a comunidade local, com preços justos e competitivos frente a outros produtores locais, garantindo espaço e participação de todos no processo.

A construção coletiva de um projeto que conversasse com a realidade local foi fundamental para que houvesse sinergia entre todos os integrantes do grupo. Como responsáveis pela transformação de sua realidade, eles se envolvem em todas as etapas – desde a produção até a venda dos peixes, dividindo o trabalho e as responsabilidades. “E o futuro que vem aí, nossos filhos, quem sabe nossos netos, que vão chegar aqui e ver essas gaiolas todas cheias de peixe, e vão poder dizer ‘foi meu pai, foi meu avô que deixou isso pra gente’”, finaliza Gilson Batista, participante do grupo.