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Intervenção realizada pela Fundação Alphaville com voluntários levou revitalização física ao espaço e fortalecimento de autoestima dos moradores
Uma iniciativa de voluntariado da Fundação Alphaville em parceria com a urbanizadora Alphaville contribuiu com a revitalização da estrutura física da Ocupação Elza Soares, na Vila Mariana, em São Paulo. O evento, realizado em novembro deste ano, integrou a agenda do Dia de Fazer Diferença, tradicionalmente realizado pela empresa e pela Fundação no último trimestre do ano, e o projeto final proposto pelo Módulo Social do Programa de Estagiários da empresa.
A intervenção física no espaço – onde moram famílias majoritariamente chefiadas por mulheres – imprimiu mais alegria com cores vibrantes e grafite na fachada e pintura interna em áreas comuns, reforma e impermeabilização da quadra esportiva, troca da caixa d’água, criação da horta comunitária, impermeabilização do teto dos banheiros, reparo de infiltrações e consertos de hidráulica e elétrica. “Tudo o que foi feito tem importância enorme para os moradores da Elza Soares, desde melhores condições do espaço até o impacto na autoestima e no vínculo com o bairro”, comenta o programador Rodrigo Ramos, militante das Brigadas Populares, movimento parceiro da Fundação Alphaville no projeto.
Reunindo funcionários voluntários da Alphaville, estagiários da Diretoria de Negócios, Novos Produtos e Meio Ambiente, e especialistas da Fundação Alphaville, o projeto que pensou e desenvolveu toda a ação na Ocupação Elza Soares foi pautado a partir de um programa voltado a estimular novos profissionais a desenvolver outro pensamento sobre moradia e habitação social. “É impossível discutir habitação social sem falar com quem pensa isso, que são os trabalhadores sem teto. Por isso, quando a Fundação foi chamada para formatar o módulo social do programa de estágios, nossa proposta foi a de levar a parte prática dentro de uma Ocupação, que não é um sonho para os moradores e, sim, um tempo de passagem, onde eles buscam ter um espaço mais acolhedor”, explica a antropóloga Maria Ruanes Coelho, analista de projetos da Fundação Alphaville e uma das responsáveis por todo o desenho teórico e prático da atividade com os estagiários.
No período de formação técnica e teórica, os oito estagiários – estudantes dos últimos períodos de cursos de Engenharia e Arquitetura e Urbanismo de universidades públicas e particulares de São Paulo – participaram de encontros quinzenais no módulo Conceitualização, para depois irem a campo no módulo prático, que envolveu o conhecimento de uma ocupação, proposta de intervenção e execução da intervenção como líderes dos diversos grupos formados para o trabalho. “Utilizamos a metodologia Convivência que Constrói, desenvolvida pela Fundação Alphaville, para conduzir todo o processo”, conta Maria Ruanes Coelho, sinalizando que a ideia deve ganhar novas edições, inclusive com possibilidade de expansão para estagiários de todas as áreas da urbanizadora Alphaville. “É interessante termos uma empresa do setor com olhar interessado em retirar o estigma de que moradores de ocupações habitacionais são invasores. A intenção é criar outro repertório a partir do contato com as histórias em torno dessa realidade. Produzir esse debate dentro de um ambiente institucional é incrível”, completa a analista de projetos da Fundação Alphaville.
A presença feminina em ocupações habitacionais é sempre muito forte. Na Ocupação Elza Soares, as mulheres são maioria, com natural presença de destaque nas lideranças da comunidade, sendo que 80% das famílias residentes ali são lideradas por mulheres pretas, em grande parte, mães solo. Há também muitas crianças e pessoas acima de 60 anos.
Maria Inês Gerônimo da Silva, 55, é uma das mulheres que mora e faz parte da liderança no Elza Soares. Separada, criou os três filhos sozinha, no bairro Aclimação, vizinho à Ocupação, e trabalhava como segurança de agência bancária. Mas as restrições de saúde após a realização de importantes cirurgias trouxeram à reboque o desemprego e, esse, levou a família de Inês para morar na Ocupação. “Apenas uma das minhas filhas está empregada. Eu e meus outros dois filhos estamos conseguindo apenas bicos. A alternativa para sair do aluguel foi vir para a Ocupação”, conta Inês, lembrando que desde 2005 possui cadastro junto à Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (Cohab), sem nunca ter sido chamada.
Uma das coordenadoras entre os moradores do Elza Soares, sua fala emocionada sobre a intervenção realizada no prédio reflete o sentimento comum de que vive ali. “Nunca vi uma coisa tão bonita e tão nobre como essa ação. Está lindo nosso espaço e isso é muito bom porque nos faz sentir importantes e nos traz esperança. Temos até uma horta. Estou orgulhosa de morar no Elza Soares, sem nenhuma vergonha disso”, disse a animada Maria Inês.
Para ela, a pintura é uma mudança muito importante. “As cores lindas agora dão uma outra visão para quem passa aqui. Comentei que gostaria que minha casa fosse azul e uma moça linda pintou meus vasinhos todos nessa cor. O que mais gostei foi das pessoas. Jovens lindos que fizeram tudo com o maior carinho e atenção. Eles foram geniais e só de lembrar fico emocionada. Tudo maravilhoso e muitas alegrias. Espero que eles tenham gostado da gente também”, resume Maria Inês, ecoando as vozes de toda população do Elza Soares.
Para muito além da realidade acadêmica, os estagiários envolvidos no projeto junto à Ocupação Elza Soares experimentaram uma espécie de travessia de um portal durante o processo do programa. Sem ter na grade curricular disciplinas voltadas à temática de moradia social, os estudantes comemoram a oportunidade de vivenciar essa questão na prática.
Para Thayná da Silva Pereira, 24, aluna do quarto ano de Arquitetura e Urbanismo, o projeto foi ao mesmo tempo impactante e gratificante. “Do ponto de vista técnico, a situação de risco em que aquelas pessoas vivem foi o maior impacto que tive. Do ponto de vista social, o impacto foi constatar, na prática, a exclusão e a discriminação social com os moradores das ocupações. E há muito o que aprender com eles. Valorizar a vida, por exemplo. Fiquei positivamente surpresa em ver a garra com que aquelas pessoas enfrentam suas dificuldades, sem abaixar a cabeça e, especialmente, dando valor e voz às mulheres. E do ponto de vista humanístico, essa experiência nos fez enxergar como simples ações nossas podem mudar a vida de outras pessoas”, fala Thayná.
A futura arquiteta também assume que o projeto terá eco em sua rota profissional. “Sempre foquei minha carreira voltada para projetos mais sustentáveis, com uso de recursos simples, de forma que meu trabalho possa ajudar a todos de forma inclusiva, independente de classes sociais, e cumprindo a função social da Arquitetura”, afirma a estagiária.
Eduardo Henrique Tita Lain, 26, estudante do último ano de graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, conta que conhecer as pessoas da Ocupação, e suas histórias muito diferentes e complexas foi o que mais o impactou. “Nas visitas que fizemos à Ocupação, junto com a Fundação Alphaville, tivemos oportunidade conhecer a história de cada morador e suas dificuldades ali. Especialmente me marcou saber das dificuldades físicas encontradas inicialmente no espaço e, ainda assim, os moradores conseguiram se reorganizar, manter as pessoas em segurança e fazer mapeamento de risco”, lembra o estudante.
Para Eduardo Lain, questões de infra-estrutura, como a cobertura do telhado e a caixa d’água, que era de amianto, e a transformação da fachada, estão entre as ações mais importantes. “A fachada é o ponto chave para estabelecer comunicação entre a Ocupação e a comunidade do entorno”. Impactar positivamente o presente e o futuro das crianças que vivem no Elza Soares também emocionou o estagiário.
“A função social da propriedade é o que mais impacta na vida das pessoas. Conseguir ressignificar e se apropriar de imóveis que estão abandonados em São Paulo, com milhares de pessoas precisando de moradia. Esse é o mote do projeto e o programa da Alphaville foi uma oportunidade incrível, misturando pessoas de diferentes origens pensando na construção de um futuro melhor para todos. E é muito importante que o setor privado também seja protagonista nessa jornada”, finalizou Eduardo Lain. A colega Thayná Pereira concorda. “É muito importante as empresas promoverem esse tipo de vivência porque não se trata apenas de questão profissional e, sim, de como somos como pessoas, para além de números e dinheiro”, afirma.
“Os moradores ficaram felizes com as mudanças tão necessárias para eles e os estagiários saem dessa vivência com mudanças significativas na forma de pensar a vida e a caminhada profissional”, aponta Maria Ruanes Coelho, analista de projetos da Fundação Alphaville.
A viabilização das ações que foram implementadas na Ocupação Elza Soares contou com parcerias importantes, como a das Brigadas Populares, organização tem a questão da moradia urbana entre suas pautas. No projeto da Alphaville e Fundação Alphaville, os brigadistas como a professora Camila Sofia Cesarino Santander e o programador Rodrigo Ramos estiveram diretamente envolvidos no processo de revitalização.
Elo interlocutor entre a Brigada, a coordenação do projeto e a Fundação, Rodrigo conta que se emocionou com o trabalho. “A solidariedade levada pela equipe da Fundação e a eficiência, empenho, cuidado e a solidariedade do pessoal do Dia de Fazer a Diferença foram fundamentais para o desenrolar da atividade. Inclusive, deixou a todos bastante impressionados e gratos”, pontuou Rodrigo, lembrando que Brigadas Populares contribuiu com plantas do espaço, interlocução com moradores e com técnicos da Fundação Alphaville e almoço no mutirão.
Coordenadora da Ocupação pelas brigadas Populares, a professora Camila Santander avalia como enriquecedora a troca entre os moradores da Ocupação Elza Soares, voluntários e estagiários. “É preciso que nós, enquanto cidadãos brasileiros, sejamos defensores de uma política para as pessoas, que fiscalize proprietários que não cumprem a lei no que diz respeito à função social da propriedade, enquanto milhões de brasileiros ainda não possuem seu direito à moradia resguardado pelo Estado”, avalia. Sobre a ação, Camila finaliza: “Esta iniciativa impacta diretamente a qualidade de vida da população residente na Ocupação. A caixa d’água e o grafite foram dois pontos muito importantes para eles. A moradia é condição básica para a garantia dos Direitos Humanos”.
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